13/11/2017

Viver em outra nação


Meu primeiro batik - uma pintura em tecido comum em vários países africanos e muito típica em Moçambique. Costumam representar cenas da vida cotidiana ou da natureza.

Olhar e não ver
Viver em outra nação, com o firme propósito de conhecer e amar aquela nova cultura, faz-nos exercitar a arte de olhar e não ver. Olhar um casal de rapazes de mãos dadas ou abraçados e não ver um par homossexual – porque definitivamente não é. Olhar dois adolescentes, moça e rapaz, conversando a uma distância respeitosa e não ver apenas dois bons amigos – ali tem muita coisa acontecendo e pode até acabar em casamento! Olhar uma bela jovem coberta dos pés à cabeça, como orienta sua religião, e não ver uma mulher necessariamente infeliz. Olhar uma criança bem pequena, com a roupa suja e os cabelos desgrenhados, a correr pelas ruas empoeiradas, e não ver um menor negligenciado. Olhar as jovens dançando alegremente, com movimentos de pés, braços, quadris, cabeças e sorrisos, e não ver nada mais do que jovens louvando ao seu Deus. Quanto estranhamento os nossos olhos nos impõem…

Quisera eu não ver, aqui em Moçambique, com os mesmos olhos do Brasil. Quisera eu conseguir livrar-me dos meus óculos culturais e ver o mundo que me cerca com as mesmas lentes com que seu povo alegre e colorido o enxerga. Este sonho de todo missionário transcultural simplesmente não é realizável, o que torna nossa vida no campo mais complicada e, por que não dizer, divertida, às vezes. É importante saber olhar e não ver, ou, dizendo de outra maneira, olhar e não aceitar a primeira resposta que os olhos dão; antes, tentar decifrar o sentido que pode estar escondido por trás da superfície. É preciso tirar os óculos. Talvez limpá-los dos preconceitos e das ideias prontas vindas de outra realidade. Para só então cumprimentar a muçulmana e sorrir para o menino descalço e, assim, vê-los mais de perto, como de fato eles são.

Míope que sou, sigo com meus óculos. Não sei se algum dia saberei andar por aí sem eles. Por ora, ocupo-me em olhar e aprender, cada dia um pouco, como esse mundo quer ser visto por mim.

Notícias de cá
Nestas últimas semanas, sigo no programa de orientação que a minha agência missionária propõe. São leituras e encontros com uma missionária veterana para tirar dúvidas e compartilhar descobertas. No meu caso, sou orientada pela Miss. Maura Manoel, que vive há 25 anos na Beira e até fala com sotaque! Seus insights são muito preciosos e cada nova descoberta sobre a cultura moçambicana é uma alegria para mim.

Além da orientação, que é minha principal tarefa até o fim deste ano, frequento a Igreja Baptista Renovada na Beira e em Chamba, um bairro distante da cidade. Já ministrei algumas aulas na Escola Bíblica Dominical, cultos de estudo bíblico na quinta-feira e preguei num culto de jovens. Tenho ido aos cultos da mocidade e orado sobre a possibilidade de desenvolver algum trabalho com a juventude das nossas igrejas aqui.

Com esta ideia em mente, tenho frequentado também alguns clubes bíblicos da Young Life, uma missão que atua exclusivamente com estudantes e tem uma base aqui na Beira. Conheci os missionários Gustavo e Beatriz Fuentes por acaso – uma “coincidência” preparada por Deus – e aprendi muito com eles a partir de sua experiência de 11 anos evangelizando e discipulando estudantes em Moçambique.

Os aprendizados vão seguindo dia a dia, nas idas aos mercados, pagando contas na Baixa (centro da cidade), na participação em eventos sociais (casamento, funeral, aniversário da igreja), mas principalmente nas conversas com os moçambicanos e com os missionários mais antigos – a turma da Miaf e o casal Miss. Maria Pires e Pr. Simonal, da Jami.  É muito bom ver os meus “progressos” em pequenas coisas como entender certas expressões do Português falado aqui, reconhecer alguns irmãos e chamá-los pelo nome, comer uma comida da terra e gostar.

Graças a Deus por estes três meses em Moçambique e por tudo que Ele tem feito por mim! E vamos em frente como se diz aqui: pouco pouco!
 
Miss. Lícia Rosalee Santana
Beira, Moçambique

Agradeça comigo por todas as experiências vividas até agora; pela provisão em todas as áreas; pelos novos amigos.

Ore comigo pela adaptação à vida na Beira - como eu disse acima, não é fácil ver o mundo de um jeito diferente, por isso ore para que o amor de Deus por esta nação inunde meu coração e mente; ore por minha saúde física e emocional.

"Àquele que é poderoso de realizar infinitamente mais
do que tudo o que pedimos ou imaginamos, de acordo com o seu poder que age em nós,
a Ele seja a glória na Igreja e em Cristo Jesus,
por todas as gerações, por toda a eternidade. Amém! "
Efésios 3.20, 21

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Publicado por André Metz